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Resumos

António Carlos CORTEZ
     

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António Carlos Cortez (Lisboa, 1976)

Professor de Literatura Portuguesa, crítico literário (no Jornal de Letras assina a coluna «Palavra de Poesia» e colaborador permanente das revistas Colóquio-Letras e Relâmpago) e ensaísta, publicou dez livros de poesia desde 1999. Os últimos são de 2016: Animais Feridos (Dom Quixote) e a antologia A Dor Concreta (Poesia 1999-2016), com chancela da Tinta-da-China. Representou a poesia portuguesa em festivais internacionais (I e II encontros de escritores de língua portuguesa, Brasil/ Natal, 2010 e 2011; Encuentro de Poetas del Mondo Latino, México/ 2015 e Printemps des Poètes, Luxemburgo, 2015). Está traduzido no LIRIKLINE – Observatório europeu de poesia. Publicou no Brasil a antologia O Tempo Exacto (ed. Jaguartirica, Rio de Janeiro, 2016) e já este ano o livro de inéditos Corvos Cobras Chacais, com chancela da Gato Bravo (Rio de Janeiro). Tem leccionado cursos de poesia contemporânea em universidades do Brasil (USP e UERJ ou UFRJ e UFF). É membro da direcção do PEN CLUB Português e da Associação Portuguesa de Escritores. É membro do conselho editorial de várias revistas de poesia e ensaio. Venceu em 2011 o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para melhor livro de poesia de 2010, com Depois de Dezembro (Licorne, 2010).

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António Carlos CORTEZ
     

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António Carlos CORTEZ
     

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Nos Cem Anos de Húmus, de Raul Brandão: entre o espanto e o absurdo

            Maria João Reynaud (FLUP)

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A comemoração dos 150 Anos do Nascimento de Raul Brandão em coincidência com o Centenário de Húmus (1917) convida a que se reflita sobre a singularidade do Escritor e a atualidade desta obra-prima da literatura portuguesa do século XX,  contextualizando-a e inscrevendo-a na conturbada época em que foi produzida. Um dos seus aspetos diferenciais é o caminho que nela se abre entre o conhecido e o desconhecido, entre «o espanto» e «o absurdo» da condição humana, trajeto que é também o do fascinante work in progresso que são as suas três versões.

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Maria João Reynaud é Professora Jubilada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde de doutorou com uma Tese  sobre as versões do Húmus de Raul Brandão (1997). Fez provas de Agregação em 2004 (aprovada por unanimidade). Lecionou durante várias décadas Literatura Portuguesa, moderna e contemporânea (licenciatura, mestrado e doutoramento); criou e dirigiu o Curso de Doutoramento em Crítica Textual e Crítica Genética. Como bolseira da F. Gulbenkian, especializou-se em crítica genética, no ITEM / CNRS (Paris). É investigadora principal do Grupo Literatura, Cultura & Diálogo Internacional do CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória). Ensaísta e crítica tem extensa colaboração em publicações científicas e didáticas; em revistas de literatura e cultura, nacionais e internacionais: Colóquio Letras (F. Gulbenkian); Línguas e Literaturas / FLUP; CEM /CITCEM; Intercâmbio / FLUP; L’Atelier du roman (Paris, Les Belles Lettres); Les Eaux vives / AICL (Association Internationale de la Critique Littéraire), entre outras. Além de ensaios e artigos em publicações coletivas portuguesas e estrangeiras; de prefácios, posfácios e introduções a diversas obras de poesia e prosa, a sua pesquisa tem-se centrado na obra de Raul Brandão, na crítica genética e nas poéticas contemporâneas.

É dramaturgista da companhia de Teatro Pé de Vento (Porto)

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Livros publicados:

 

ENSAIO  e CRÍTICA

Metamorfoses da Escrita – Húmus de Raul Brandão, Porto, Campo das Letras, 2000 (Prémio de Ensaio do PEN CLUB/2000);

Enigma e Transparência – Fernando Echevarría, Porto, Edições Caixotim, 2001.

Sentido Literal – Ensaios de Literatura Portuguesa, Porto, Campo das Letras, 2004.

Matéria Poética – Ensaios de Literatura Portuguesa, Porto, Campo das Letras, 2008;

Margens – Ensaios de Literatura, Porto, ed. Afrontamento, 2016.

 

POESIA :

Luz de Intimidade, Porto, Edições Afrontamento, 2004;

– Lumière d’Intimité, choix de poèmes et traduction par Michel Host, La Barbacane 2006.

 

LITERATURA PARA A INFÂNCIA

Ana e o Arco-Íris, Porto, Edições Afrontamento, 1985. Nova edição: ilustrações de Luiz Darocha, Porto, Edições Afrontamento, 2003.

 

EDIÇÃO CRÍTICA:

– Raul Brandão, Húmus, Edição Crítica de Maria João Reynaud, 3 volumes, Obras Clássicas da Literatura Portuguesa, Porto, Campo das Letras, 2000. IPLB/MC

– Raul Brandão, História dum Palhaço (A Vida e o Diário de K. Maurício) / A morte do Palhaço e o Mistério da Árvore, Obras Completas, Vol. III, Edição de Maria João Reynaud, Obras Clássicas da Literatura Portuguesa, Lisboa, Relógio d’Água Editores, 2005. IPLB/MC.

– Raul Brandão, Húmus, Edição de Maria João Reynaud, Obras Completas, Vol. X. Edição de Maria João Reynaud, Obras Clássicas da Literatura Portuguesa, Lisboa, Relógio d’Água Editores, 2015. IPLB/MC.

 

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: um livro de tinta transparente

            Joana Lima (CLEPUL / FLUL)

 

A tinta com que António Nobre pinta erros ortográficos em barcos de pesca ou azeite boiando sobre o crepúsculo parisiense ou a saudade da infância dispersando-se pelo Mondego é a água, sob o estado de rio que flui e nuvem que assombra e gelo que estagna. Esta comunicação apresenta os modos como este elemento primordial que atravessa a poesia de Só é feito símbolo pelo poeta, explorando, para tal, a renovação que este faz do arquétipo literário da água na literatura portuguesa. Além de este livro espelhar a fertilidade fremente do amor jovem presente nas fontes das albas trovadorescas e a superação do medo e do abismo dos mares na épica camoniana, o simbolista António Nobre desenha novas águas poéticas no cânone literário nacional, ao criar novos movimentos e significados – decadentistas, pessimistas, melancólicos – para a água. Percorramo-las.

 

Joana Lima (n. Figueira da Foz, 1982) é licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2006), mestre em Estudos Portugueses - Literatura Portuguesa com a dissertação António Maria Lisboa, o “Eterno Amoroso” (2009) e mestre em Ensino do Português e das Línguas Clássicas com a dissertação vencedora do Prémio Melhores Mestres A Complementaridade entre Leitura e Escrita no Ensino da Literatura (2012), possuindo também o Curso de Estudos Avançados de Doutoramento em Literatura Portuguesa (2010), graus conferidos pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Professora, investigadora do CLEPUL e poeta, tem-se dedicado ao estudo de vanguardas como o modernismo, o surrealismo e a poesia experimental em Portugal, bem como à criação e à coordenação de laboratórios de escrita criativa e de leitura literária no ensino básico e no ensino secundário, visando estabelecer um sistema efetivo de vasos comunicantes entre o conhecimento produzido na investigação académica e o processo de ensino-aprendizagem da literatura nas escolas em que tem lecionado Português, Literatura Portuguesa e Latim. Participou em diversos colóquios, apresentando a comunicação “A Sombra da Claridade n’A Invenção do Dia Claro” no Colóquio Internacional 120 anos de Almada Negreiros, e a comunicação “António Maria Lisboa: uma pirâmide sem cume” no Colóquio Internacional Surrealismo(s) em Portugal. Atualmente, prepara a sua tese de doutoramento na área da Literatura Portuguesa contemporânea.

 

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Camilo Pessanha Paladino dos Direitos Humanos

            Daniel Pires (CEB | CLEPUL / FLUL)

 

Jurista de mérito, Camilo Pessanha pugnou, em Macau, pelo exercício da justiça em consonância com os direitos humanos. As suas teses inovadoras foram encaradas com desconfiança.

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Daniel Pires  Licenciado em Filologia Germânica e doutorado em Cultura Portuguesa, foi professor cooperante em S. Tomé e Príncipe e em Moçambique e leitor de português nas Universidades de Glasgow, Macau, Cantão e Goa. É autor de, entre outras, as seguintes obras: Dicionário de Imprensa Literária Portuguesa do Século XX, Dicionário Cronológico da Imprensa Macaense do Século XIX, Bocage a Imagem e o Verbo, Fotobiografia de Camilo Pessanha, Wenceslau de Moraes: Permanências e Errâncias no Japão, Correspondência de Camilo Pessanha, O Marquês de Pombal, o Padre Malagrida e o Terramoto de 1755, Padre Malagrida – O Último Condenado ao Fogo da Inquisição, Descrição da Arrábida do Padre Inácio Monteiro (em colaboração, com António Mateus Vilhena), As Chinelas de Abu-Casem, de Bocage, Bocage e o Sortilégio do Amor (ambos em colaboração com Ana Chora) e Polémicas de Raul Proença. Colaborou no Dicionário de Fernando Pessoa, Dicionário da República, Dictionary of Literature of the Iberian Peninsula, Cambridge Guide to World Theatre, Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Dicionário de História de Portugal e Dicionário do 25 de Abril. Editor da obra completa de Bocage (Imprensa Nacional) e da Clepsidra de Camilo Pessanha. Comissariou várias exposições. Integrou a comissão das comemorações dos 250 anos do nascimento de Bocage. Dirige o Centro de Estudos Bocageanos desde a sua fundação, em 1999.

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Aos ombros de gigantes: a relação de Guilherme de Faria com Carlos de Lemos, Raul Brandão, António Nobre e Camilo Pessanha

            José Rui Teixeira

 

Guilherme de Faria nasceu em 1907, em Guimarães, quarenta anos depois do nascimento de Raul Brandão, António Nobre e Camilo Pessanha. Apesar do esquecimento que se abateu sobre obra deste poeta neorromântico que se suicida com apenas 21 anos, em 1929, a sua existência toca surpreendentemente a vida dos três gigantes de 1867, assim como a de um quarto gigante injustamente esquecido: Carlos de Lemos. Guilherme de Faria pode ser um interessante "denominador comum" nos enredos destas vidas, contextos partilhados, outras intertextualidades.

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José Rui Teixeira nasceu no Porto, em 1974. Trajetos académicos: licenciatura em Teologia na Universidade Católica Portuguesa [Porto], mestrado em Filosofia e doutoramento em Literatura na Faculdade de Letras da Universidade do Porto; pós-doutoramento na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa [Braga]. É professor e diretor pedagógico do Colégio Luso-Francês [Porto]. É diretor da Cátedra de Sophia, na UCP. Integra o Conselho Científico do Instituto de Pensamiento Iberioamericano da Universidad Pontificia de Salamanca. É investigador do Centre de Recherches Interdisciplinaires sur les Mondes Ibériques Contemporains [Études Lusophones], da Université Paris-Sorbonne, e de dois centros de investigação da Universidade Católica Portuguesa: Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião [Lisboa] e Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos [Braga]. É membro da Asociación Latinoamericana de Literatura y Teología.

 

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Cesário: uma poética da inovação

            Annabela Rita (UL-FL-CLEPUL | APE | OLP)

 

Esta comunicação visa observar de que modo a poesia de Cesário Verde desenvolve a sua própria arqueologia estética, configurando “linhagens” (T. S. Eliot) poéticas que assinalam o itinerário criativo e inovador.

 

Annabela Rita Doutorada em Literatura Portuguesa e com Agregação e pós-doutoramento em Literatura, que trabalha na sua relação com as outras artes, é professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Professora/Investigadora Visitante de diversas universidades (Brasil, Espanha, Itália, Varsóvia), é Presidente da Academia Lusófona Luís de Camões, do Instituto Fernando Pessoa – Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas (da SHIP) e da Assembleia Geral da CompaRes (International Society for Iberian-Slavonic Studies), Vice-Presidente do Conselho Científico do Instituto Europeu de Ciências da Cultura – Padre Manuel Antunes, Coordenadora do CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias), integra as Direcções da Associação Portuguesa de Escritores, do Observatório da Língua Portuguesa e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, a Comissão Científica Internacional da Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização (CIDH), os Conselhos Científicos e Consultivos de diversas instituições, plataformas interinstitucionais (Letras Com(n)Vida, CILEC - Congreso Internacional de Literatura Española Contemporánea) e de Edições de Obras (Obra Completa do Padre António Vieira, Obra Completa Pombalina, Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, etc.), tendo sido membro fundador de algumas, etc.. Tem diversas distinções nacionais e estrangeiras.

Com direção, coordenação e/ou consultoria de várias coleções, revistas (Anpoll (Universidade de Sta. Catarina/Florianópolis), Anuário de Literatura (Universidade de Sta. Catarina/Florianópolis),  Études Romanes de Brno (Universidade Masaryk de Brno), Graphos (Universidade de Sta. Catarina/Florianópolis), Letras Com(n)Vida (CLEPUL/INCM), Nova Águia - Revista de Cultura para o Século XXI, Telheiras - Cadernos Culturais, etc.), Congressos Científicos (inter)nacionais, Biblioteca online (Lusosofia), secção no Wall Street International, edição de autores e de obras, participação em júris de prémios literários nacionais e internacionais.

Obras principais: Luz e Sombras no Cânone (2014), Focais Literárias (2012); Paisagem & Figuras (2011); Cartografias Literárias (2010; S. Paulo, 2012); Itinerário (2009); No Fundo dos Espelhos (2 vols., 2003-07), Emergências Estéticas (2006); Breves & Longas no País das Maravilhas (2004); Labirinto Sensível (2003); Eça de Queirós Cronista (1998, 2ªed. ver. 2017). Últimas obras coordenadas: Fabricar a Inovação. O Processo Criativo em questão nas Ciências, nas Artes e nas Letras  (2017), Entre Molduras. A Metamorfose nas Artes, nas Letras e nas Ciências (2016), Do Ultimato à(s) República(s) (2012).

[URL: http://sites.google.com/site/annabelarita1/]

 

 

Uma forma para fixar o mundo: Sobre o soneto e os sonetos de Camilo Pessanha

            António Carlos Cortez (CLEPUL / FLUL)

 

O soneto, forma fixa consagrada é, diz Oppenheimer, a prova de que a poesia, como arte correlata à música e á matemática, é um produto moderno, ou melhor, da mente moderna. No quadro evolutivo das formas de arte, o soneto atinge com o simbolismo e o modernismo uma espécie de ponto de não regresso ao que a tradição literária configurou. Tal significa que, a despeito da sua pervivência em órgãos do modernismo (Orpheu 1e os sonetos de Alfredo Guisado, por exemplo), o soneto se torna campo de experiências linguísticas que reformulam, alteram ou simplesmente mudam o modelo fundador petrarquista e, na poesia portuguesa, os modelos camoniano e anteriano. Camilo Pessanha é, neste sentido, a voz que promulga essa radicalização do soneto, para ele uma tentativa de fixar o impermanente do que o olhar não pode gravar. Escrita, gravação, inscrição de imagens em movimento, uma textualidade nova numa forma clássica, isso mesmo se pretende dar a ver lendo alguns dos sonetos insertos em Clepsydra.

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António Carlos Cortez (Lisboa, 1976) Professor de Literatura Portuguesa, crítico literário (no Jornal de Letras assina a coluna «Palavra de Poesia» e colaborador permanente das revistas Colóquio-letras e Relâmpago) e ensaísta, publicou dez livros de poesia desde 1999. Os últimos são de 2016: Animais Feridos (Dom Quixote) e a antologia A Dor Concreta (Poesia 1999-2016), com chancela da Tinta-da-China. Representou a poesia portuguesa em festivais internacionais (I e II encontros de escritores de língua portuguesa, Brasil/ Natal, 2010 e 2011; Encuentro de Poetas del Mondo Latino, México/ 2015 e Printemps des Poètes, Luxemburgo, 2015). Está traduzido no LIRIKLINE – Observatório europeu de poesia. Publicou no Brasil a antologia O Tempo Exacto (ed. Jaguartirica, Rio de Janeiro, 2016) e já este ano o livro de inéditos Corvos Cobras Chacais, com chancela da Gato Bravo (Rio de Janeiro). Tem leccionado cursos de poesia contemporânea em universidades do Brasil (USP e UERJ ou UFRJ e UFF). É membro da direcção do PEN CLUB Português e da Associação Portuguesa de Escritores. É membro do conselho editorial de várias revistas de poesia e ensaio. Venceu em 2011 o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para melhor livro de poesia de 2010, com Depois de Dezembro (Licorne, 2010).

 

 

Sobre O Gebo e a Sombra: Raul Brandão e Manoel de Oliveira

            Golgona Anghel (FCSH – UNL)

 

O quotidiano do fantasma:

nada, ninguém, nunca

 

 

“A felicidade na vida é não acontecer nada.”

Gebo

 

“Aos mortos”: é com esta dedicatória que Raul Brandão abre a primeira página das Memórias, para assim responder a um apelo: “Os mortos chamam por nós cada vez mais alto...”. Responde a um chamamento e, ao mesmo tempo, lança uma inquietação que assombra a sua obra: a consciência da nossa finitude, da presença da morte na sua proporção geológica. Somos habitados por mortos: “Como em ti, há em mim várias camadas de mortos não sei até que profundidade. Às vezes convoco-os, outras são eles, com a voz tão sumida que mal a distingo, que desatam a falar.” (Memórias). A compreensão dessa fatalidade leva-o à acção. Convoca as trevas. Vive e escreve nesse território partilhado por mortos.

A peça O Gebo e a Sombra encena esse trabalho infinito de luto, incorporando na carne das palavras a ausência de um filho perdido. Pai, mãe e mulher, enterram-no na linguagem para dela o libertarem: espectro excessivo, incomensurável, por estranhado; infinito, por imaginado.

O último filme de Manoel de Oliveira dá voz a esta peça de Raul Brandão. Lê-a como se fosse uma partitura até ao fim do terceiro acto; até ao momento em que a polícia chega e o Gebo, “de coração negro como a noite”, confrontado, pela primeira vez no filme, com os raios do sol, projecta e confunde-se com a própria sombra.

Se, em Singularidades de uma Rapariga Loira, Oliveira materializava o fantasma, à maneira dos simulacros de Klossowski; se em O Estranho Caso de Angélica o fantasma ganhava vida autónoma e fazia visitas intempestivas; em O Gebo e a Sombra, estamos a assistir a um momento de passagem, em que todas as personagens estão a atravessar um limbo que os prepara, tacitamente, para o outro lado. Flutuam lentamente, acompanhadas por gestos difusos, apoiados naquilo que os une – a falta -, agarrados às próprias palavras como se fossem a única verdade, fazendo do próprio corpo origem e sepultura do fantasma. Os planos fixos, a luz monótona da penumbra, os vidros sujos, o cenário estático de um palco, recolhem o lugar da ausência. A ausência é um espelho obscuro. É preciso delirar para ver. É preciso inventar memórias para compensar uma suspeita: a hipótese de não haver consolo. Já não o ser para a morte heideggeriano, mas a experiência nietzschiana da negatividade, a hipótese de não haver nada, de não haver ninguém, nunca.

O fantasma é persistente embora adquira estados transitivos. Contagia memórias. Apodera-se do presente como uma gaguez. Torna-se mais real do que o próprio real. Os sujeitos vão-se constituindo enquanto efeitos do seu assombramento. Falam aqui e agora, mas desde o lugar do fantasma. Habitam um interregno opaco, uma antecâmara da morte, onde se cruzam, agarrados aos sonhos e às ânsias, como figuras a agitarem-se no fundo das telas de Munch, como vozes que se abandonam ao próprio eco e aguardam um choque que lhes devolva a morte ou a possibilidade de outra vida. Mas qual?

 

Golgona Anghel licenciou-se (2003) em Estudos Portugueses e Espanhóis na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde, mais tarde, iria concluir o doutoramento (2009) em Literatura Portuguesa Contemporânea.

Desde 2009, desenvolve a sua actividade de investigação no âmbito de um projecto de pós-doutoramento, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.  

 

 

A verdadeira vida está ausente – a escrita fragmentária em Raul Brandão

            José Manuel de Vasconcelos

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Partindo de uma análise do fragmento considerado como um brevíssimo projecto de ensaio e analisando a expressão fragmentária de alguns livros de Raul Brandão, pretende-se demonstrar que a característica da fragmentaridade no autor de Húmus é uma consequência do modo como é por ele encarada a existência e a inevitável deriva do homem pelo efémero e pelo relativo, bem como a consciência da impossibilidade de se atingir um conhecimento absoluto.

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José Manuel de Vasconcelos nasceu em Lisboa em Dezembro de 1949, é licenciado em Direito e exerce a advocacia. Poeta, ensaísta, crítico e tradutor, publicou vários livros de poesia, tendo poemas traduzidos em espanhol, francês, italiano, alemão, chinês, japonês e árabe. Tem escrito sobre autores portugueses e estrangeiros, quer em prefácios e estudos introdutórios, quer em diversos jornais e revistas literárias, nacionais e estrangeiras, tendo ainda publicado textos teóricos sobre tradução literária. Organizou e traduziu uma antologia do Futurismo italiano. Traduziu, entre outros, Federico Garcia Lorca, Eugenio Montale, Umberto Saba e Paul Valéry. Escreve também sobre artes plásticas, tendo colaborado em catálogos de diversas exposições. É colaborador do «Osservatorio permanente sugli studi pavesiani nel mondo», tendo publicado em Itália vários ensaios sobre Cesare Pavese.

Tem feito parte de júris de diversos prémios literários e participado em Festivais e Encontros literários em Portugal e no estrangeiro.

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Raul Brandão e os Açores

            Vasco Rosa

 

São dadas a conhecer as circunstâncias da viagem de Raul Brandão aos Açores de que resultou As Ilhas Desconhecidas. Notas e paisagens publicado há 90 anos, em Maio de 1927, assim como a sua história editorial e recepção crítica desde então. São também reveladas, pela primeira vez, algumas fontes locais em que se baseou para fundamentar esse seu livro que Pedro da Silveira considerou como um dos melhores da literatura portuguesa de viagens de todos os tempos. Trata-se do relato duma pesquisa em curso que tem apoio financeiro da Direcção Regional de Cultura dos Açores e da editora Companhia das Ilhas, que a publicará em livro em 2018.

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Vasco Medeiros Rosa nasceu em Lisboa em Junho de 1958. Editor, pesquisador cultural, escreve habitualmente no jornal Observador e noutras publicações culturais. 
Dedica-se há anos a Raul Brandão: publicou A Pedra Ainda Espera Dar Flor, recolha de dispersos (Quetzal, 2013), escreveu sobre ele mais de 70 artigos reunidos no livro Cinzento e Doirado (Imprensa Nacional, Outubro de 2017), organizou uma extensa antologia da sua obra (E-Primatur, no prelo), participou em três colóquios sobre o escritor e foi o curador de duas exposições promovidas pelaCâmara Municipal do Porto por ocasião dos 150 anos do seu nascimento: na Biblioteca Pública Municipal do Porto e na Casa-Museu Guerra Junqueiro.

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Camilo Pessanha e os matizes da decadência

            Ana Margarida Chora (IELT - UNL)

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A poesia de Camilo Pessanha é reconhecida sobretudo pela representação de um Simbolismo peculiarmente ligado à sonoridade lírica, aproximando-se da estética simbolista francesa. No entanto, apesar da sonoridade difusa, a poesia de Camilo Pessanha procura fixar-se semântica e estilisticamente numa imagética decadentista, sugerida através da exploração de espectros cromáticos equívocos, típicos da Belle Époque, os quais reflectem as fragilidades do sujeito poético. Os matizes são apreendidos em função dos sentimentos ligados à vida, às sensações de estagnação e à imobilidade, em conformidade com o imaginário visual da época, já que se trata de um período obcecado, na arte e na técnica, com a preservação das imagens.

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Ana Margarida Chora é Doutora em Literatura Comparada, investigadora do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (Universidade Nova de Lisboa), trabalhando em Literatura Medieval, na Belle Époque e no Orientalismo. Publicou diversos artigos e os ensaios Lancelot – do mito feérico ao herói redentor e Bocage e o Oriente; em co-autoria com Daniel Pires, As Chinelas de Abu-Casem (tradução de Bocage) e Bocage e o Sortilégio do Amor (Camilo Castelo Branco). É também poeta e artista.

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Sobre dois sonetos inéditos de António Nobre

            Ernesto Rodrigues (CLEPUL / FLUL)

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No Jornal de Calliope / Revista Litteraria Dedicada á Classe Academica (Porto, n.º 18, 23-X-1882; n.º 26, 1883) – que Mário Cláudio cita na sua edição das Poesias Completas (1988) de António Nobre, relativamente ao ano de 1882 –, temos, neste derradeiro n.º 26, 2.º ano, 7-I-1883, dois sonetos inéditos, que fundam a nossa comunicação. Será lugar, também, para indicar variantes pertinentes em versos nobrianos achados na Imprensa escrita da época, assim concorrendo para futura edição crítica da lírica de A. Nobre.

 

Ernesto Rodrigues, poeta, ficcionista, crítico, ensaísta, editor literário e tradutor de húngaro, é Doutor em Letras e Agregado em Estudos de Literatura e Cultura pela Universidade de Lisboa, em cuja Faculdade de Letras ensina e dirige o CLEPUL – Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias.

 

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Camilo Pessanha e a representação interseccionista do espírito subjetivo

            Dionísio Vila Maior (UAb | CLEPUL / FLUL)

 

Procurar-se-á ler criticamente alguns dos poemas de Pessanha, tentando aí encontrar algumas das linhas diretrizes que delimitam a problemática de um sujeito em crise e que ressumam de uma íntima relação entre sujeito poético e texto poético. Nesse sentido se procurará, por um lado, fundamentar uma matriz operatória que particularize uma crise do sujeito poético e, por outro, equacionar alguns instrumentos operatórios que ajudem a legitimar o que pode ser entendido como o pressentimento (contemplativo) de um absoluto.

 

Dionísio Vila Maior Docente na Universidade Aberta (Portugal). Professor-Investigador da Universidade da Sorbonne (Paris IV). Membro investigador integrado do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL). Professor Convidado em diversas Universidades. Membro da World Communication Association. Membro do Conselho Científico da CIDH — Cátedra FCT Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares e a Globalização (UAb). Coordenador da Comissão Interinstitucional do Instituto Fernando Pessoa e da Comissão Interinstitucional da Academia Lusófona Luís de Camões. Presidente, na parte portuguesa, das Comissões Organizadoras dos Congressos Internacionais Luso-Brasileiros “100 Orpheu” e “100 Futurismo”. Júri da Associação Portuguesa de Escritores. Diretor e avaliador científico de diversas revistas e coleções. Alguns livros publicados: 100 Orpheu (coord. em colab.), Viseu, Edições Esgotadas (2016); Do Ultimato à(s) República(s): variações literárias e culturais (coord. em colab.), Lisboa, Esfera do Caos (2011); A revivência dos sentidos. Estudos de Literatura Portuguesa, Linda-a-Velha, Editora Hespéria (2009); Estudos Pessoanos (CD-ROM), Lisboa, Universidade Aberta (CD-ROM) (2004); O Sujeito Modernista - Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e António Ferro: Crise e Superação do Sujeito, Lisboa, Universidade Aberta (2003); Discursos - Literatura e Fim de Século (Org.), Lisboa, Universidade Aberta (2002); Diálogos literários luso-brasileiros (Org.), Coimbra, Pé de Página Editores (2002); Literatura em Discurso(s): Saramago, Pessoa, Cinema e Identidade, Coimbra, Pé de Página Editores (2ª ed.) (2001); A Geração de 70 e a Geração de Orpheu: Portugal em Questão (em colab.), Lisboa, Universidade Aberta (2001); Pessoa, Sá-Carneiro e Almada: Representação Estético-Ideológica, Lisboa, Universidade Aberta (2000); Fernando Pessoa: Heteronímia e Dialogismo, Coimbra, Almedina (1994); Introdução ao Modernismo, Coimbra, Almedina (1994; 1996).

 

 

«Serás poeta e desgraçado»: o sujeito que escreve em António Nobre

            Ricardo Nobre (FLUL)

 

Sem se ter dedicado a uma reflexão teórica profunda do conceito de poesia e do significado de ser poeta, a obra de António Nobre revela a imagem de um eu que escreve intimamente articulada com a do sujeito elegante poseur, atento, melancólico e saudoso. A atitude de meditação completa-se no sentimento da distância física e metafórica do país e do passado, evocado por meio de alegorias da infância e da vida familiar, marítima, rural, coimbrã e parisiense, povoadas por cativantes personagens que preenchem tais espaços. Na poesia e na correspondência de António Nobre, o sujeito vai-se declarando predestinado para a literatura, em afirmações a que as referências à mão e à pena com que escreve dão sustância, ao mesmo tempo que permitem perceber que o sujeito poético tem consciência do seu ofício. Por outro lado, alusões ou menções de autores como Virgílio, Shakespeare, Antero, Camões, Almeida Garrett e textos bíblicos permitem compreender a tradição lírica em que Nobre se insere, insinuando pertencer ao grupo restrito dos que escrevem poesia. Esta intervenção procura entender como funciona a «varinha mágica» (na rica expressão de Hernâni Cidade) de António Nobre.

 

Ricardo Nobre é doutorado (2014) em Estudos Românicos (com Especialidade em Estudos Portugueses) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde antes fizera licenciatura (2005) e mestrado (2008) em Estudos Clássicos.

Depois de ter colaborado na revisão científica do Dicionário de Latim-Português da Porto Editora (coord. António Rodrigues de Almeida), foi bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (2008-2012), Assistente Convidado na Universidade Aberta (2010-2013) e professor de literatura e cultura portuguesa do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa da Faculdade de Letras (2015-2017). É actualmente professor de Latim no Instituto Superior de Direito Canónico da Universidade Católica Portuguesa e investigador de Pós-Doutoramento no Centro de Estudos Clássicos, de que é membro integrado desde 2007. Pertence à Comissão Organizadora dos Colóquios Internacionais A Literatura Clássica ou os Clássicos na Literatura (2011, 2013, 2015, 2017).

Tem publicado estudos sobre historiografia antiga e literatura portuguesa moderna e contemporânea, centrando-se todavia na sua área de especialização: a recepção da literatura greco-latina e do discurso metapoético clássico em Portugal (entre os séculosxviii e xx). Colabora com Paula Morão na edição de Lírica de João Mínimo, integrado no projecto de Edição Crítica das Obras de Almeida Garrett (coord. Ofélia Paiva Monteiro).

 

 

Raul Brandão: a condição trágica do homem moderno

            Teresa Martins Marques (CLEPUL / FLUL)

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A lição da modernidade é revelada nos aspectos precursores da obra de Raúl Brandão, partindo de António Sérgio e Guilherme de Castilho, no que concerne  à construção  do «monólogo interior» como «meditação» e «solilóquio», ao stream of consciousness que n’A Farsa e no Húmus exprime  um discurso mental aproximativo do «nouveau roman» ou sendo mesmo um novo romance avant la lettre pelo desmantelamento da intriga tradicional, pela criação de um espaço simbólico, pela diluição das personagens num magma narrativo em que o Tempo se torna o motor da «acção», nos  monólogos da Candidinha d’A Farsa oscilando entre a rememoração e o projecto, o real e o imaginário  que anticipa Ulisses de James Joyce, representando o mundo  na sua essencialidade, quebrando os protocolos do género romanesco, sob o signo da  modernidade.

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Teresa Martins Marques é doutorada em Literatura e Cultura Portuguesas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Secretária-Geral da Associação Portuguesa de Escritores ; membro da  Associação Portuguesa de Críticos Literários e do PEN CLUB português ; investigadora integrada no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL) 

 Fez parte da equipa do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia das Ciências de Lisboa, (1992 e 1995), nomeadamente na vertente da terminogia literária. Teve a seu cargo a direcção da Edição das Obras Completas de José Rodrigues Miguéis (1994-1996), e assinou cada uma das introduções dos 13 volumes da Obra. Prepara uma nova edição destas Obras Completas. Dirigiu a equipa de organização do Espólio Literário de David Mourão-Ferreira, na Fundação Calouste Gulbenkian (1997-2004.

Fez parte de júris de ficção, poesia e ensaio que atribuíram prémios a Eduardo Lourenço, Maria Helena da Rocha Pereira, Eugénio Lisboa, João Rui de Sousa, Vasco Graça Moura, Manuel Alegre, José Gil, Maria Velho da Costa, Lídia Jorge, Hélia Correia, Nuno Júdice, entre outros.

Colaborou em  cerca três dezenas e meia  de volumes colectivos.

 

PUBLICAÇÕES INDIVIDUAIS :

 

ENSAIO :     

- Si On Parle du Silence de la Mer (1985) - Estudo da novela de Vercors - Le Silence de la Mer;

- O Eu em Régio: a Dicotomia de Logos e Eros. Prémio de Ensaio José Régio / 1989, 1ª ed. 1993; 2ª ed. 1994;

- O Imaginário de Lisboa na Ficção Narrativa de José Rodrigues Miguéis, 1ª ed. 1994; 2ª ed. 1996; 3ª ed.1997;

- Leituras Poliédricas, 1ª ed. 1996, 2ª ed. refundida e aumentada, 2002;

- Clave de Sol - Chave de Sombra. Memória e Inquietude em David Mourão-Ferreira  (2011 - tese).  Edição em livro refundida e aumentada (2016).

 

BIOGRAFIA 

- O Fio das Lembranças - Biografia de Amadeu Ferreira (2015).

 

CONTO 

- Carioca de Café (2009) 

- Degraus do Passado (2014).

 

TEATRO

- Anjas ao Sol (2015)

 

ROMANCE 

- A Mulher que Venceu Don Juan (2013).

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Corpos e almas – afinidades e disparidades em Raul Brandão, António Nobre e Camilo Pessanha

            José Carlos Seabra Pereira

 

 

Recital de Poesia

            Aurelino Costa

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Dia 23, pelas 12.45 h

- "Lusitânia no Bairro Latino" (Só)

- "Georges anda ver o meu país de marinheiros...." (Só)

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Dia 23, pelas 18.00 h

- excerto do Húmus, de Raul Brandão

- "Viagens na Minha Terra" de António Nobre

- "Singra o navio. Sob a água clara"; "Não se se isto é o amor"; "Enfim, levantou ferro"; "Desejos"; "Chorai arcadas + Ao longe um barco de flores", de Camilo Pessanha

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Dia 24,pelas 12.15 h .

- pequeno excerto de Húmus, de Raul Brandão

- "Na praia lá da Boa Nova, um dia", "Falhei na vida. Zut!", de António Nobre

- "Fonógrafo", "Floriram por engano as rosas"; "Ei quanto resta do Idílio acabado", de Camilo Pessanha

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